
O Rap brasileiro tá parado, os mais pessimistas dizem que já era, não tem mais volta… Às vezes penso o mesmo, mas não por causa da qualidade ou quantidade, pois isso não é problema. Grupos existem aos milhares, nem todos tão bons, mas alguns muito bons, CDs estão sendo lançados.. Mas o problema é que não existe uma movimentação cultural, grupos lançam CDs, mas não fazem shows, ou melhor, fazem 1 show por mês, isso quando conseguem manter essa média. Desse 1 show por mês, a maioria é grátis ou com um cachê que dividido ente 4 ou 5, não paga nem o transporte e o lanche.
Muitos vão discordar, mas antes disso vai pra rua e veja a real, não se iluda com a movimentação virtual, na internet todo mundo tá bem, cheios de acessos no My Space, comunidades lotadas no Orkut, milhares de visualizações dos vídeos no You Tube, centenas de downloads em suas mix tapes e cds virtuais, etc… Mas na rua não é essa a realidade, não tem lambe-lambe, quase não se vê flyers anunciando shows, o público é na sua maioria formado por grupos de Rap, ou seja, grupo canta pra grupo.
A cena está ruim, isso é fato. O disco que demorou alguns anos pra ser lançado, é esquecido em alguns dias, não existe um plano de divulgação e nem nada parecido para que o trabalho dos grupos atinja um grande número de pessoas, algo precisa ser feito ou senão continuaremos, como disse um amigo, “sempre aguardando o próximo disco do Racionais”.
Diariamente penso nisso e sempre converso sobre o assunto com pessoas importantes pra cena, pessoas que também já perceberam isso e estão buscando alternativas, fazendo por onde pra continuar a evolução e expansão da arte de rua. Há uns dias atrás encontrei uma dessas personalidades na rua, no centro da cidade, caminhamos alguns quilômetros conversando muito sobre isso, ele me entregou sua última mix tape e eu voltei pra casa ansioso por ouvir.
Na verdade nem esperei chegar em casa, de carona no carro da namorada me adiantei e matei a ansiedade. O nome da mix tape: Magus Operandi. O artista: Parteum. Não me surpreendi com o que ouvi, pois vindo dele só podia ser coisa boa, com ótimas referências, REP de raíz, muito ritmo e muita poesia, afinal é isso que essa sigla quer dizer, não é? Pois então, a sigla é levada ao pé da letra por Parteum.
“dizer que é arrogância o que transfiro pro papel / é o mesmo que dizer amém sem nunca imaginar o céu” (Primoris)
Quantos conseguem o mesmo que ele hoje em dia? Boa pergunta. Difícil responder, pois sua contribuição para a Cultura, que alguns preferem chamar de movimento (mesmo sem nenhuma movimentação), não está apenas no modo de fazer música, mas também na maneira de fazer com que essa música chegue aos nossos ouvidos. Eu até tentei comparar, mas não consegui, pois seu trabalho não é comparável a nenhum Rap feito no Brasil.
“Quem causa mais problemas do que enxerga soluções / merece toda nuvem carregada que paira / sobre o telhado das casas que crio em rima” (A bagunça das gavetas)
Todas as faixas mais uma vez foram mixadas e masterizadas no Atelier Studios, por ele mesmo e Vander Carneiro. Vou ouvindo cada faixa e lamentanto por ser uma mix tape, podia ter mais… mais músicas, mais rimas, mais batidas, mais poesia, mais ritmo… Tudo que é relacionado a música Rap é levado ao pé da letra: as batidas batem de verdade, tem ritmo e poesia como já foi dito e tem a presença insdispensável do DJ.
Seriedade, critérios.
“Contemplo a mesma rima mil vezes antes de gravar” (Magus operandi)
Pra resumir, sabe quando um disco te faz voltar no tempo e lembrar de quando era muleque, com dinheiro contado pra ir até o centro buscar os discos do Câmbio Negro, Comando DMC, Duck Jam, Gog, Racionais, Thaíde e DJ Hum ou DMN? Foi assim que me senti.
“Meu Rap é outro rumo, mas comparam-me a cada perdedor / desculpe-me senhor / mas acabou a brincadeira / isso é terapia intensa pra quem vive na fogueira” (A moral provisória)
É sempre importante encontrar pessoas com quem possamos conversar sobre qualquer assunto, melhor ainda quando essa pessoa sabe do que fala, tem informação, fundamentos, boas referências e ainda te “presenteia” com uma bela obra.
Procure pela mix tape, vale a pena. São faixas curtas, algumas apenas instrumentais, participações de Kamau, Rick, DJ Suissac, Joana Brito e Mzuri Sana. Quem baixar na internet vai perder as fotos, alguns timbres e um vídeo, que eu ainda não consegui assistir (risos).
P.S.: Demorei para publicar essa resenha, mas por um lado foi bom, pois deu tempo de ler a entrevista dada por Parteum e seu irmão Rappin Hood para a Revista + Soma e indicar o link (clique aqui para ler a entrevista).
Aí Gil,
Belo texto! Fiquei curioso para ouvir a mix tape.
Muita paz!
Kibe.
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ouço part um
rap como os dele saum raros
espero q a rapaziada ae
traga tbm mais originalidade q nem esse mano faz
seria muito bom
paz…
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Escutei a poucos dias essa mix ae e achei sensacional!! Realmente, uma raridade a percepçao e composição contidas ae. Sua resenha foi bem reflexiva também.
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Poie é o
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Tudo que vem desta nova escola, mais precisamente desta rapazeada que saiu da Coletânea Direto do Laboratório é sensacional e inovador.
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Agora o depoimento do Gil, como alguns diriam aqui no sul ” Me caíram os butiás do bolso” Estou lançando meu cd solo e por aqui, a vida toda vejo essa de grupo canta pra grupo é normal, ainda mais não sendo capital. Daí pensei, em Sampa é outra história,lá é o bicho!!! Depois dessa Gil, qual é qual foi, como é que agente ainda tá nessa!!!
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Quadro “Em nome do Amor”
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