
Smif-N-Wessun, Tek e General Steele, eles são parte de uma das bancas mais importantes do Rap norte-americano, a Boot Camp Clik, da qual também fazem e/ou já fizeram parte Black Moon, Heltah Skeltah, O.G.C e o Beatminerz, que também pode ser considerado parte da Crew.
Os nomes mais conhecidos entre eles são, Buckshot, DJ Evil Dee, Sean Price e o responsável pelos negócios, Dru-Ha. Atualmente todos os trabalhos deles são lançados pelo selo/gravadora Duck Down Music, que não trabalha apenas com eles, mas com vários outros grandes nomes que também já lançaram discos pela gravadora.

Sou suspeito para falar sobre qualquer um que faz parte da B.C.C, porque sou fã! Lembro como se fosse hoje a primeira vez que vi o primeiro disco dessa dupla, eu não tinha nenhum vinil de Rap ainda, só fitas e só Rap brasileiro, um amigo estava com o disco e me emprestou, o disco era o Dah Shinnin, foi o primeiro disco de Rap internacional que eu tive a oportunidade de colocar em um 3 em 1, de trazer pra dentro de casa, um disco que só chegava aqui importado, igual a quase todos da Golden Era!

Eu não fazia ideia de quem eram os caras, mal sabia pronunciar o nome e só fui entender mais sobre eles quase 10 anos depois, quando eu mesmo tive a minha cópia do álbum em vinil, ou melhor, duas cópias do mesmo álbum, que tenho até hoje! Assim como os álbuns do Black Moon, Heltah Skeltah, algumas mix tapes do DJ Evil Dee e alguns singles de todos eles!

O primeiro disco é um clássico em qualquer lugar do mundo, em vinil ele é duplo, tem 13 faixas e boa parte dessas faixas você pode tocar em qualquer festa de Rap. Músicas como “Bucktown”, “Stand Strong”, “Wontime” e “Sound Bwoy Bureill”, tinham presença garantida nas mix tapes feitas durante a Golden Era. O disco foi lançado pela Wreck Records, uma subdivisão da Nervous Records, que na época também lançou, entre outros, os discos do Black Moon e Mad Lion.
Antes desse disco eles já haviam sido apresentados no disco Enta Da Stage do Black Moon, outro clássico e lá fora as coisas funcionam muito assim, pelos menos funcionava assim, um grupo apresenta o outro no seu disco, meio que “apadrinha” e ai depois o “apadrinhado” lança seu disco, é só buscar na história e vai ver que foi assim com muitos nomes.

Esse ano eles lançaram o disco “The All”, com produção do 9th Wonder e The Soul Council. A dupla e a origem da B.C.C é no Brooklyn, região de Nova Iorque que parece ter uma água diferente, dada a quantidade de gente talentosa que sai dali. Troquei algumas perguntas com o General Steele, que na maior humildade fez questão de responder. Ele falou sobre o disco, um pouco sobre a história do grupo, performances ao vivo, música brasileira, Rap, religião e muito mais.
(leia resenha do disco)
Revista Elementos – Vocês estão há quantos anos fazendo Rap?
General Steele – Estamos fazendo Rap profissionalmente há 27 anos.
R.E – Por que Smif-n-Wessun?
G.S – Escolhemos esse nome para mostrar que juntos somos um, Tek e Steele, juntos formam Smif-n-Wessun.
R.E – Durante um tempo vocês usaram o nome Cocoa Brovaz, por que?
G.S – Em 1996, a empresa Smith Wesson (uma das maiores fabricantes de armas dos Estados Unidos) nos forçou a desistir do nome por conta de direitos autorais ou seríamos processados. Apesar do nosso destaque na época, não tínhamos poder legal para lutar contra isso, assim resolvemos usar outro nome para continuar fazendo música.
R.E – A água do Brooklin é diferente? Como tantos bons MCs podem vir da mesma região?
G.S – Hahahahaha muito bom! Isso é possível, mas eu acho que é devido ao fato de estarmos cercados por culturas tão ricas, de diferentes partes do mundo. Uma linda reunião de pessoas, linguagens, alimentos, estilos, etc…
R.E – Por que “The All”?
G.S – The All representa muitas coisas. É a uma abreviação de “Arm Leg Leg Arm Head (Allah)” que não é somente a composição física do homem, mas também tem significado espiritual, um significado de Deus ou mais especificamente “Allah”. The All são todas as nossas experiências e tudo que nós vamos passar nesses 360 graus da vida.
R.E – Existe alguma música que é a mais especial do álbum?
G.S – O álbum inteiro tem um significado especial. Se eu tivesse que escolher ficaria entre “A letter for you” ou “Illusions”.
R.E – Qual critério foi usado para escolher as participações?
G.S – Fizemos uma lista de nomes e depois falamos diretamente com as pessoas. Nós procuramos características que fizessem sentido e que combinassem com a gente.
R.E – 9th Wonder é, sem dúvida, um dos melhores produtores de rap, um gênio, como foi fazer um álbum inteiro com ele?
G.S – Foi muito libertador e elevado. Nos sentimos livres, sem falar na diversão. 9th Wonder, Khrisis, E. Jones, Eric Gee e The Soul Council. Todos muito talentosos e muito humildes. Eles trabalham extremamente bem, sem ego, simplesmente um time de músicos bem equilibrados, e o 9th é o líder Jedi, conduzindo a sinfonia com cuidado e precisão.
R.E – Quanto tempo demorou para gravar o álbum?
G.S – Nós gravamos o álbum inteiro em duas semanas rigorosas de estúdio. Todos os dias, por pelo menos, 12 horas cada sessão. Trabalhamos duro para depois vir as participações. Depois foi só esperar o 9th mixar e masterizar.
R.E – Eu resumiria o álbum em uma palavra, positividade e você?
G.S – Nas lições, ou na palavra, diz que a melhor forma de compreensão é o amor, eu poderia definir com a palavra compreensão, ou melhor, AMOR.
R.E – Sean Price, se estivesse vivo, estaria no álbum? Em qual música?
G.S – Ah cara, eu acho que Sean definitivamente estaria no álbum. Ele teria feito isso (hahahaha). Talvez ele estivesse na faixa “The A.L.L”.
R.E – Como você está vendo a cena do Rap nos Estados Unidos? O que você ouve? O que você acha do Trap?
G.S – A cena aqui é muito diversa. Tem muitos estilos, alguns dos quais eu gosto e outros que não são do meu gosto, música como um todo é muito vasta. A música fala para os desejos e paixão dos ouvintes, então há algo de verdade aqui para todos, mas ninguém gosta de tudo. Liberdade de criatividade e escolha é isso que é o Hip-Hop.
R.E – Talvez eu esteja errado, mas notei no disco um lado um pouco religioso, vocês seguem alguma religião?
G.S – Sim, nós dois somos religiosos. Nós acreditamos em um poder maior e praticamos principalmente o Islã, como uma forma de vida e lemos o Alcorão, mas também estudamos outras religiões, como cristianismo, budismo, etc… Muitas dessas religiões são enraizadas no mesmo valor, uma crença em um Deus, um criador, um mensageiro e um propósito.
R.E – No final de algumas músicas, há um instrumental, uma espécie de interlúdio, foi ideia de vocês ou do produtor?
G.S – Estes interlúdios são da mente surpreendente do 9th. Ele tentou manter o clima, a ideia, do “Dah Shinnin”.
R.E – Eu não entendi bem, o que é StafhAllah?
G.S – Na verdade a pronúncia correta é “Astaghfirullah” e significa – aqueles que procuram o perdão de Allah. É uma oração breve de redenção, uma expressão de vergonha e desaprovação.
R.E – A construção das batidas e escolha dos samples foi feita em conjunto com o 9th?
G.S – Os caras tinham uma tonelada de batidas e ainda estavam fazendo mais nos dias que estivemos lá. Eles têm um estúdio bonito, com cerca de 4 quartos e os hóspedes faziam beats em todos os quartos, a vibração era muito rica. Os caras sentiram a vibe que estávamos e então eles nos apresentaram batidas surpreendentes, que pensaram que nós gostaríamos. Ouvimos e escolhemos algumas, outras o 9th amou e sugeriu que usássemos.
R.E – Você sabe alguma coisa sobre o Rap brasileiro ou sobre a música brasileira?
G.S – Não tenho muito familiaridade com a música brasileira, mas uma das minhas músicas favoritas é “Vendendo Saúde e Fé” do Ocote Soul Sounds, do disco Coconut Rock, eu amo essa música.
R.E – Como é o show de vocês hoje? Vocês usam DJ? Quanto tempo dura o show?
G.S – Nosso show é intenso e cheio de energia, é assim que nós gostamos de fazer. Nós trabalhamos com o DJ Logic e DJ Evil Dee, também trabalhamos com alguns DJs de fora e também algumas bandas ao vivo. Temos trabalhado muito com banda, uma das minhas favoritas é a Chamion Sound da República Checa, eles são demais!
R.E – Eu gostaria muito de ver a banca de vocês completa no Brasil. Existe algum interesse em vir ao Brasil? Vocês já se apresentaram em algum país da América do Sul?
G.S – Eu também gostaria muito de ter o Bootcamp completo no Brasil, isso seria incrível! Fomos ao Chile e a Colômbia até agora e foi fantástico.
R.E – Alguma mensagem para o público brasileiro, muitas pessoas por aqui gostam da música de vocês e de todos no Boot Camp.
G.S – Quero dizer obrigado a todas pessoas do Brasil! Somos gratos pelo apoio ao Smif-n -Wessun, ao Boot Camp Clik e a família e nós esperamos por muitos anos mais poder compartilhar grandes músicas e boas energias através do Hip-Hop!
(leia resenha do disco)
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